Disse, então, Jesus estas palavras: "Graças te rendo, meu
Pai, Senhor do céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e
aos prudentes e por as teres revelado aos simples e aos pequenos." (S.
MATEUS, cap. XI, v. 25.)
8. Pode parecer singular que Jesus renda graças a Deus, por
haver revelado estas coisas aos simples e aos pequenos, que são os
pobres de espírito, e por as ter ocultado aos doutos e aos prudentes, mais
aptos, na aparência, a compreendê-las. E que cumpre se entenda que os primeiros
são os humildes, são os que se humilham diante de Deus e não se
consideram superiores a toda a gente. Os segundos são os orgulhosos, envaidecidos
do seu saber mundano, os quais se julgam prudentes porque negam e tratam a Deus
de igual para igual, quando não se recusam a admiti-lo, porquanto, na antigüidade,
douto era sinônimo de sábio. Por isso é que Deus lhes deixa a
pesquisa dos segredos da Terra e revela os do céu aos simples e aos humildes
que diante dEle se prostram.
9. O mesmo se dá hoje com as grandes verdades que o Espiritismo
revelou, Alguns incrédulos se admiram de que os Espíritos tão poucos esforços
façam para os convencer. A razão está em que estes últimos cuidam
preferentemente dos que procuram, de boa fé e com humildade, a luz, do que
daqueles que se supõem na posse de toda a luz e imaginam, talvez, que Deus
deveria dar-se por muito feliz em atraí-los a si, provando-lhes a sua
existência.
O poder de Deus se manifesta nas mais pequeninas coisas, como
nas maiores. Ele não põe a luz debaixo do alqueire, por isso que a derrama em
ondas por toda a parte, de tal sorte que só cegos não a vêem. A esses não
quer Deus abrir à força os olhos, dado que lhes apraz tê-los fechados. A
vez deles chegará, mas é preciso que, antes, sintam as angústias das trevas e reconheçam
que é a Divindade e não o acaso quem lhes fere o orgulho. Para vencer a
incredulidade, Deus emprega os meios mais convenientes, conforme os indivíduos.
Não é à incredulidade que compete prescrever-lhe o que deva fazer, nem lhe cabe
dizer: "Se me queres convencer, tens de proceder dessa ou daquela maneira,
em tal ocasião e não em tal outra, porque essa ocasião é a que mais me
convém."
Não se espantem, pois, os incrédulos de que nem Deus, nem os
Espíritos, que são os executores da sua vontade, se lhes submetam às
exigências. Inquiram de si mesmos o que diriam, se o último de seus servidores
se lembrasse de lhes prescrever fosse o que fosse. Deus impõe condições e não
aceita as que lhe queiram impor. Escuta, bondoso, os que a Ele se dirigem
humildemente e não os que se julgam mais do que Ele.